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Entenda a relação entre Engenharia e Mobilidade Urbana

engenharia e mobilidade urbana

A profissionalização na engenharia que chegou tanto no governo do estado quanto, na prefeitura de São Luís, começa a dar resultados.

A profissionalização na engenharia que chegou tanto no governo do estado quanto, na prefeitura de São Luís, começa a dar resultados. Afinal, tanto as secretarias envolvidas com atividades da engenharia: SINFRA, SEDEPE, SEMOSP, SMTT e SEMIT, quanto suas estatais: GASMAR e CAEMA, são comandadas por Engenheiros, e tem Engenheiros(as) desempenhando atividades técnicas. Mas, afinal, e as críticas? Infelizmente, além da falta de respeito aos profissionais e propostas absurdas por parte de leigos, se demonstra total desconhecimento sobre quais conteúdos são necessários para as soluções viárias adotadas para atender aos anseios tanto dos maranhenses quanto dos ludovicenses.

A Engenharia de Tráfego envolve conhecimentos de processos estocásticos, em especial a teoria de filas. Por exemplo, o fluxo de veículos segue uma distribuição de Poisson, portanto, uma variável aleatória discreta dada em veículos por minuto (vec/min). O fluxo de veículos em uma via se divide em duas situações principais: veículos em pelotão e veículos que tem brecha. Os veículos que têm brecha possuem distribuição exponencial; já os em pelotão possuem distribuição determinística [2,7]. Assim, para se determinar a probabilidade do fluxo de veículos está abaixo de determinado valor, deve-se calcular a integral da função densidade de probabilidade, com limite superior no fluxo desejado. Assim, esses estudos tem por base, ou seja, pré-requisito, conhecimentos de Cálculo Diferencial e Integral, conteúdo este faz parte dos conteúdos básicos dos cursos de graduação em engenharia.

O estudo e projeto em Engenharia de Tráfego é lidar com o acaso, pois a natureza do tráfego é aleatória, de modo a reduzir a probabilidade de engarrafamentos. Parâmetros importantes como: volume de tráfego, fluxo de tráfego, demanda, velocidade, velocidade de percurso, atraso, impedância da viagem, capacidade viária, fluxo de saturação, velocidade de fluxo livre, etc, devem ser minuciosamente calculados e dimensionados.  A modelagem da Engenharia de Tráfego se baseia em cinco eixos: Análise de Fluxo e Contagem de Veículos, Modelagem de Tráfego, Planejamento de Sinalização Semafórica, Gestão de Rotas e Circulação e Infraestrutura Viária Inteligente.  A Análise de Fluxo e Contagem de Veículos faz uso de tecnologias como câmeras de monitoramento e sensores para coletar dados precisos sobre o volume de tráfego em diferentes horários e locais e a análise estatística para identificar padrões de comportamento dos usuários das vias. A Modelagem de Tráfego faz uso de softwares de simulação para criar modelos computacionais que reproduzem o comportamento dos veículos e dos pedestres, e avaliação de cenários hipotéticos e impactos de mudanças infraestruturais. O Planejamento de Sinalização Semafórica envolve o projeto e sincronização de semáforos para melhorar a fluidez do tráfego e a implementação de sistemas inteligentes que ajustam os tempos de sinalização. Na etapa de Gestão de Rotas e Circulação, se desenvolve os planos de circulação que orientem os fluxos de tráfego de forma eficiente, e se implementa políticas como zonas de tráfego restrito e rotas alternativas. A etapa final envolve Infraestrutura Viária Inteligente e nessa etapa vamos fazer a integração de tecnologias avançadas, como sistemas de controle de tráfego adaptativo e detecção de incidentes em tempo real, e uso de Big Data para análise preditiva e tomada de decisões baseadas em dados, ou seja, Inteligência Artificial, IoT (Internet das Coisas) e o 5G terão papel crucial com o uso de sistemas inteligentes e conectados. Assim, além dos conhecimentos do Engenheiro(a) Civil [8], geralmente se faz necessário o apoio de um Engenheiro(a) devidamente habilitado em automação e telecomunicações, no caso Engenheiro(a) Eletricista [9], em Eletrônica [9], de Telecomunicações [9] ou de Computação [10]. Alertamos aqui que os Engenheiros(as) de Controle e Automação tem  habilitação técnica restrita ao controle e automação de equipamentos, processos, unidades e sistemas de produção [11], não tendo, por exemplo, atribuições profissionais iniciais em sistemas de comunicação e telecomunicações.

A engenharia de tráfego enfrenta desafios contínuos, como o crescimento urbano desordenado, a dependência de veículos individuais e a necessidade de adaptação às novas tecnologias de mobilidade, como veículos autônomos e compartilhamento de carros. Tendências emergentes incluem a ênfase na sustentabilidade, com projetos que incentivam o uso de transporte público e modos alternativos de locomoção. A utilização de profissionais devidamente habilitados, engenheiros(as) registrados no CREA, se faz necessária para as atividades profissionais referente à engenharia de tráfego, pois tomadas de decisões técnicas são essenciais para o desenvolvimento urbano sustentável e a qualidade de vida nas cidades modernas. Suas metodologias e estratégias evoluem constantemente para enfrentar os desafios complexos do ambiente urbano contemporâneo, promovendo um equilíbrio entre mobilidade eficiente, segurança viária e impacto ambiental reduzido. O futuro dessa disciplina certamente estará marcado pela inovação tecnológica e pela busca contínua por soluções que atendam às necessidades das sociedades urbanas em transformação.

Além de melhorar a mobilidade, a engenharia desempenha um papel crucial na mitigação dos impactos ambientais negativos associados ao transporte urbano. Mas que está ocorrendo em São Luís?  Quais as características da engenharia e seu impacto na mudança da cidade para um grande centro metropolitano, abandonando as características de uma cidade de médio porte?

A cidade de São Luís, ao superar a barreira de um milhão de habitantes, se firma como uma cidade grande e figura entre as 15 maiores cidades do Brasil [6]. As grandes cidades pulsam, vibram, tem trânsito frenético, e para garantir a mobilidade urbana, a engenharia faz suas intervenções, com base em estudos e projetos, através de seus cálculos e dimensionamentos. As intervenções no trânsito visam garantir fluidez ao tráfego. A redução de congestionamentos não apenas diminui as emissões de gases de efeito estufa e poluentes atmosféricos, como também melhora a qualidade do ar nas áreas urbanas. Isso é essencial para combater problemas de saúde pública relacionados à poluição e para alcançar metas de redução de carbono estabelecidas em acordos internacionais.

A Engenharia tem por característica altos índices de evasão e retenção em seus cursos de graduação. Isso se explica pelo péssimo ensino médio hoje no país: dados do último PISA em matemática, onde temos Singapura liderando com 575 pontos [4], acima da média da OCDE, Estados Unidos na média da OCDE com 465 pontos [4] e o Brasil abaixo da medida da OCDE com 379 pontos [4]. O mais grave para o Brasil é quando se compara aos demais países da América do Sul, atrás do Chile que teve 412 pontos [4], Uruguai 409 pontos [4], Peru 391 pontos [4] e Colômbia 383 pontos [4]. O Brasil está em 65º lugar no ranking PISA de Matemática, e essa tragédia atinge todas as classes sociais, uma vez que os alunos mais ricos também estão abaixo da média global em matemática no ranking PISA [5].  Assim fica a grande questão: como leigos que não tem formação acadêmica em engenharia, profissão que envolve conhecimentos avançados em  matemática de nível superior não visto no ensino médio, em um país com resultados pífios em matemática, se manifestam abertamente apontando soluções de engenharia, sem a devida formação e autorização legal para tal, afinal, Engenharia é uma profissão regulamentada? A grande questão é que as pessoas são livres para manifestar opinião, mas para exercer ofício em profissões regulamentadas tem que atender aos requisitos legais, e, no caso da engenharia, só exerce a profissão de Engenheiro(a) o profissional devidamente registrado no CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) da sua circunscrição.

Artigo feito em colaboração com Eng. Civ. Henrique Lima, Mestre em Engenharia Transportes pelo IME (Instituto Militar de Engenharia)

Por Rogério Moreira Lima 
Engenheiro e professor, foi coordenador Nacional da CCEEE/CONFEA e vice-presidente CREA-MA (2022). É membro da Academia Maranhense de Ciência e diretor de Inovação na Associação Brasileira de Telecomunicações

 

Fonte:

[1] PEREIRA, Lucélia F. Um procedimento de apoio a decisão para escolha de sistemas de controle de tráfego considerando a coleta automatizada de dados. Dissertação de Mestrado, IME, 2005. disponível em https://transportes.ime.eb.br/informa%C3%A7%C3%B5es-acad%C3%AAmicas/disserta%C3%A7%C3%B5es

[2] FILIZZOLA, Edson Paulo. Noções de Engenharia de Tráfego. Equipe coordenada por Edson Paulo Filizzola. São Paulo, Companhia de Engenharia de Tráfego, 1977. disponível em https://www.cetsp.com.br/consultas/publicacoes/boletins-tecnicos.aspx

[3] Boletim Técnico 31.  Pesquisa e levantamentos de tráfego. Companhia de Engenharia de Tráfego. disponível em https://www.cetsp.com.br/consultas/publicacoes/boletins-tecnicos.aspx

[4] Ranking da educação: Brasil está nas últimas posições no Pisa 2022; veja notas de 81 países em matemática, ciências e leitura. G1, 05/12/2023, disponível em https://g1.globo.com/educacao/noticia/2023/12/05/ranking-da-educacao-brasil-esta-nas-ultimas-posicoes-no-pisa-2022-veja-notas-de-81-paises-em-matematica-ciencias-e-leitura.ghtml

[5] Até alunos mais ricos no Brasil estão abaixo da média global em Matemática, aponta Pisa. BBC, 5 de dezembro de 2023, disponível em https://www.bbc.com/portuguese/articles/cv2zx819rg4o

[6] Censo 2022: as 10 capitais mais populosas do Brasil. Exame, 30 de junho de 2023, disponível em https://exame.com/brasil/censo-2022-as-10-capitais-mais-populosas-do-brasil/

[7] VILLALOBOS, Luz D.C. Uso da Distribuição Probabilística dos Fluxos Veiculares no Cálculo da Programação de um Semáforo a tempo fixo Modo Isolado.  XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 2010.

[8] artigos 1º, 7º e  27 alínea (f) da Lei Federal nº 5.194/1966 c/c art. 7º da Resolução CONFEA nº 218/1973

[9] artigos 1º, 7º e  27 alínea (f) da Lei Federal nº 5.194/1966 c/c art. 9º da Resolução CONFEA nº 218/1973

[10] artigos 1º, 7º e  27 alínea (f) da Lei Federal nº 5.194/1966 c/c art. 1º da Resolução CONFEA nº 380/1993

[11] artigos 1º, 7º e 27 alínea (f) da Lei Federal nº 5.194/1966 c/c Resolução CONFEA n° 427/1999.

Fonte: imirante.com

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