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Anatel indica Baigorri como secretário-geral adjunto da UIT

O presidente da Anatel, Carlos Baigorri, concorrerá ao cargo de secretário-geral adjunto da UIT (União Internacional de Telecomunicações) para o período de 2027-30. A candidatura foi aprovada pelo conselho diretor da agência brasileira na última quinta-feira, 22.

Cabe ao secretário-geral adjunto assistir ao secretário-geral da organização na coordenação das atividades, preparação e implementação de seu planejamento estratégico.

O anúncio oficial das candidaturas deve ser feito no dia 18 de junho e as eleições ocorrem em novembro de 2026, em Doha, Catar, durante a Conferência de Plenipotenciários da UIT.

O Brasil também se candidatou como estado-membro do Conselho da UIT. O País já ocupa assento no mandato atual.

Fonte: Mobile Time

5G não é 5GHz

Por Eng. Eletric. Rogério Moreira Lima
Diretor de Inovação da ABTELECOM
Especialista da ABEE Nacional
1° Secretário da ABEE-MA
Diretor de Relações Institucionais da AMC
Coordenador da CAPA e da CEALOS do CREA-MA
Professor da UEMA

A história das telecomunicações móveis é marcada por marcos tecnológicos e também por confusões conceituais recorrentes. Uma das mais atuais é a confusão entre o 5G, quinta geração da telefonia móvel, e o 5 GHz, uma faixa de frequência usada em redes Wi-Fi. Embora compartilhem um número e a letra “G”, essas duas expressões dizem respeito a coisas absolutamente distintas — tanto do ponto de vista da engenharia quanto do regulatório.

A origem das comunicações móveis remonta à década de 1920, com os primeiros sistemas de rádio utilizados pela polícia de Detroit. Esses sistemas tinham como principais limitações a alta potência de transmissão, a ausência de reuso de frequência e a baixa capacidade de atendimento. Foi apenas após a Segunda Guerra Mundial que os avanços tecnológicos oriundos do setor militar passaram a ser aplicados em sistemas civis, impulsionando melhorias em confiabilidade, mobilidade, qualidade e capacidade de comunicação. Pesquisas fundamentais foram realizadas por nomes como Bullington, Young, Egli, Okumura e Hata — este último, ao converter gráficos de propagação em fórmulas matemáticas, viabilizou o dimensionamento de sistemas móveis com o uso de calculadoras portáteis. Atualmente, a engenharia de telecomunicações dispõe de modelos mais robustos e específicos para diferentes cenários, como os modelos alfa, beta e gama, consolidados na Recomendação ITU-R P.1411, que trata da propagação em ambientes urbanos, suburbanos e rurais, inclusive nas frequências milimétricas usadas pelo 5G.

O marco simbólico da telefonia celular ocorreu em 3 de abril de 1973, quando o engenheiro eletricista Martin Cooper realizou a primeira ligação via telefone móvel, consolidando a vitória da Motorola sobre os Bell Labs. A comercialização, contudo, só veio uma década depois, com o lançamento do sistema AMPS nos Estados Unidos. Daí em diante, as gerações da telefonia móvel evoluíram rapidamente: do 1G analógico ao 2G digital, da internet móvel do 3G à convergência de voz, dados e aplicativos no 4G, até chegar ao 5G — voltado à conexão massiva de dispositivos, aplicações em tempo real e comunicação ultra confiável.

Ao longo dessa evolução, não é incomum que conceitos da engenharia tenham sido confundidos com nomes de sistemas comerciais. Um exemplo clássico ocorreu nos anos 1990, quando os termos TDMA (Time Division Multiple Access) e CDMA (Code Division Multiple Access) passaram a ser usados como se fossem nomes dos próprios sistemas celulares. Na verdade, TDMA e CDMA são técnicas de acesso ao meio — no caso, o canal rádio — utilizadas por diferentes padrões. O GSM, padrão amplamente adotado em todo o mundo, utilizava TDMA; o IS-95, popular sob a marca “CDMA”, era baseado na técnica CDMA. Ambas organizam o uso do espectro por múltiplos usuários, mas foram equivocadamente tratadas como sinônimos dos sistemas que as utilizavam, o que levou a confusões mesmo entre profissionais da área.

Hoje, observa-se um fenômeno semelhante com os termos “5G” e “5 GHz”. Equipamentos Wi-Fi que operam na faixa de 5 GHz são, muitas vezes, comercializados como “roteadores 5G”, o que é incorreto do ponto de vista da engenharia e pode induzir o consumidor ao erro. Trata-se apenas de uma rede local sem fio, limitada ao ambiente doméstico ou corporativo, sem qualquer relação com a infraestrutura, os requisitos ou os serviços previstos nos sistemas de telefonia móvel de quinta geração. Já o Wi-Fi de 5 GHz é uma aplicação para redes locais, sem necessidade de licenciamento individual, voltada para pequenos ambientes e com funcionamento muito diferente da telefonia móvel.

O 5G, por sua vez, é uma tecnologia móvel padronizada internacionalmente, cujo serviço no Brasil é regulamentado pela Resolução ANATEL nº 477/2007, que disciplina o Serviço Móvel Pessoal (SMP). Trata-se de um sistema operado em espectro licenciado, com estações radiobase (ERBs), reuso de frequência, obrigações de cobertura, qualidade e continuidade de serviço.

O entendimento claro dessas diferenças é essencial. Não se trata apenas de precisão terminológica, mas de proteção ao consumidor, de segurança regulatória e de valorização da engenharia . O uso incorreto de expressões como “5G” para designar tecnologias que não o são compromete a confiança nas comunicações, gera frustrações no usuário e distorce o mercado.

Portanto, confundir 5G com 5 GHz não é um mero erro de linguagem — é uma distorção que compromete a compreensão do funcionamento das redes, o direito à informação clara e o respeito à engenharia como campo essencial à infraestrutura digital do país. Reforçar que 5G não é 5 GHz é defender a seriedade da comunicação tecnológica e o papel fundamental dos engenheiros no desenvolvimento de soluções confiáveis e eficazes.

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Maio, o Mês das Telecomunicações: ABTELECOM promove lives comemorativas

O mês de maio tem um significado especial para os profissionais, estudantes e entusiastas da engenharia de telecomunicações. Comemoramos duas datas marcantes que valorizam o papel estratégico das telecomunicações no Brasil e no mundo: o Dia Nacional das Telecomunicações (5 de maio) e o Dia Mundial das Telecomunicações e da Sociedade da Informação (17 de maio).

Essas datas não são apenas simbólicas. Elas nos convidam a refletir sobre o impacto da conectividade, da inovação tecnológica e da transformação digital na vida da sociedade contemporânea. E, para fortalecer ainda mais essa reflexão, a ABTELECOM (Associação Brasileira de Telecomunicações) promoveu, neste mês de maio, duas lives especiais com especialistas renomados da área, marcando o início de uma nova tradição: todo dia 5 e 17 de maio, teremos eventos técnicos promovidos pela associação.

5 de Maio – Dia Nacional das Telecomunicações

Comemorado em 5 de maio, o Dia Nacional das Telecomunicações homenageia o legado do Marechal Cândido Rondon, patrono das comunicações no Brasil. Reconhecido por sua atuação pioneira na instalação de linhas telegráficas em regiões remotas do país, Rondon contribuiu de forma decisiva para a integração territorial e social do Brasil. A data celebra não apenas sua trajetória, mas também o papel essencial dos profissionais que atuam na construção e manutenção da infraestrutura que sustenta a sociedade digital moderna.

Para marcar essa data, a ABTELECOM promoveu uma live especial com o tema “Infraestrutura de 5G: Desafios e Oportunidades para o Brasil”, ministrada pelo Dr. Rogério Moreira Lima, Diretor de Inovação da associação. Engenheiro Eletricista formado pela UFMA, mestre pelo Instituto Militar de Engenharia (IME) e doutor em Engenharia Elétrica/Telecom pela PUC-Rio, o palestrante apresentou uma análise profunda sobre os caminhos e barreiras para a implantação do 5G no Brasil. Entre os temas abordados, destacaram-se a conectividade inteligente, a Internet das Coisas (IoT) e o futuro da infraestrutura digital no país, com foco nas transformações tecnológicas e sociais que o 5G poderá proporcionar.

 

17 de Maio – Dia Mundial das Telecomunicações e da Sociedade da Informação

Instituído pela União Internacional de Telecomunicações (UIT), o Dia Mundial das Telecomunicações e da Sociedade da Informação, celebrado em 17 de maio, tem como objetivo ampliar a conscientização sobre o papel das tecnologias da informação e comunicação (TICs) no desenvolvimento socioeconômico global. Essa data convida governos, instituições e a sociedade civil a refletirem sobre como a conectividade pode promover inclusão, crescimento e inovação.

Para destacar essa celebração, a ABTELECOM realizou a live “A Engenharia por Trás da TV 3.0: Destaque no Dia Mundial das Telecomunicações”, apresentada pelo Engenheiro Eletricista Leonardo Gonsioroski. Mestre em Engenharia Nuclear pelo IME e doutor em Engenharia Elétrica/Telecom pela PUC-Rio, Gonsioroski é professor da UEMA e membro titular da Academia Maranhense de Ciências. Durante sua exposição, ele revelou os bastidores técnicos e os desafios da implantação da TV 3.0 no Brasil — uma revolução que promete tornar a televisão aberta mais digital, interativa e conectada ao futuro. A apresentação também destacou o papel estratégico das engenharias de telecomunicações, eletrônica e computação na transformação da experiência audiovisual e na promoção da inclusão digital em escala nacional.

ABTELECOM: Tradição e Inovação nas Telecomunicações

Desde 1947, a ABTELECOM atua no fomento do desenvolvimento técnico e científico das telecomunicações no Brasil. Como a associação nacional pioneira da área, sua missão é fortalecer a atuação dos profissionais do setor e incentivar o debate qualificado sobre os desafios e soluções em infraestrutura, conectividade e inovação.

A instituição firmou o compromisso de, a partir deste ano, realizar lives temáticas nos dias 5 e 17 de maio, transformando o mês de maio oficialmente no Mês das Telecomunicações. Essas ações visam conectar ainda mais os profissionais da área, disseminar conhecimento técnico e valorizar o papel da engenharia no desenvolvimento do país.

Assista às lives e acompanhe as próximas edições no canal oficial da ABTELECOM no YouTube:
https://www.youtube.com/@ab_telecom

Se você é engenheiro, estudante, pesquisador ou profissional da área de TICs, acompanhar essas iniciativas é essencial para se manter atualizado e engajado com os rumos da transformação digital no Brasil.

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Brasil alcança novo marco para a conectividade: 1.000 cidades com leis de antenas atualizadas

O resultado será apresentado pelo Movimento ANTENE-SE em evento na sede da Anatel, em Brasília, no dia 13 de maio

O Movimento ANTENE-SE oficializará, na próxima terça-feira (13), em reunião na sede da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), em Brasília, com a presença de diversas autoridades e parceiros, um novo marco para o avanço da conectividade no Brasil: 1.000 cidades do país, que concentram 57% da população brasileira, passam a contar com legislações municipais atualizadas para infraestrutura de telecomunicações — as chamadas leis de antenas.

Esse é um passo fundamental para a implementação de equipamentos adequados à operação de novas tecnologias, como o 5G. O acompanhamento dos municípios com leis de antenas atualizadas é feito desde 2021 pelo ANTENE-SE, coalizão liderada pela Abrintel (Associação Brasileira de Infraestrutura para Telecomunicações), que conta com o apoio da Anatel e a colaboração de sete entidades de diversos setores:

  • Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica);
  • ABINC (Associação Brasileira de Internet das Coisas);
  • Brasscom (Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação – TIC – e de Tecnologias Digitais);
  • CNI (Confederação Nacional da Indústria);
  • Feninfra (Federação Nacional de Instalação e Manutenção de Infraestrutura de Redes de Telecomunicações e de Informática);
  • MID (Movimento Inovação Digital);
  • TelComp (Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas).

A Anatel disponibiliza em sua página da internet uma sugestão de projeto de lei municipal para atualizar a legislação local de  instalação de antenas.

O efeito positivo da modernização das leis de antenas pode ser comprovado pela maior concentração de equipamentos de 5G em cidades que contam com legislações atualizadas. Segundo dados do ANTENE-SE, atualmente há 450 cidades com leis aprovadas e com o 5G em funcionamento. Nesses locais, estão cerca de 85% de todas as estações de 5G do país (41 mil estações).

Por outro lado, 849 municípios — quase o dobro do número de cidades com leis atualizadas — já operam com a quinta geração de rede móvel, mas sem legislação adequada. Nesses locais, existem apenas 6,3 mil estações 5G, o que equivale a 15% do total nacional. Enquanto os municípios com leis atualizadas têm, em média, 77 Estações Rádio Base (ERBs) 5G, os que não possuem legislação específica apresentam média de apenas 7,5 antenas — cerca de dez vezes menos. Além disso, a população média atendida por estação também revela uma diferença significativa: em cidades com leis atualizadas, há uma média de 3.189 habitantes por ERB; já nos municípios sem regulamentação, esse número sobe para 7.031 habitantes por estação.

O estado de São Paulo, por exemplo, lidera em número de cidades com leis aprovadas (622 municípios) e na taxa de ERBs instaladas, com mais de 10.200 estruturas — o equivalente a 25% do total nacional. Já o Acre, unidade federativa com o menor número de antenas 5G no país (apenas 169), conta com cinco cidades atendidas pela tecnologia, das quais duas possuem legislação atualizada.

Outro dado relevante: ao comparar as cidades com mais de 100 mil habitantes que já possuem 5G, aquelas com nova legislação alinhada à norma federal têm uma taxa de habitantes por antena quase duas vezes menor do que as que ainda não atualizaram suas leis. Esse é um sinal claro de que uma legislação moderna contribui diretamente para ampliar a conectividade municipal.

Na prática, a chegada de novas tecnologias depende da presença de estruturas adequadas de suporte e, para isso, o primeiro passo é contar com regulamentação apropriada. A operação do 5G demanda um número significativamente maior de antenas do que as tecnologias anteriores, e a instalação dessas infraestruturas depende de leis municipais atualizadas, que desburocratizem o processo de implantação de torres e antenas.

A ausência de uma lei específica traz uma série de complicações para os municípios, que enfrentam dificuldades na instalação de novas antenas, comprometendo a cobertura do sinal e a qualidade do serviço. É importante destacar que há muitas cidades em que o 5G já está instalado, mas sem uma lei de antenas atualizada. Isso pode gerar insegurança jurídica e atrasos na construção de novas estruturas — torres, mastros, postes etc. —, dificultando a expansão da cobertura e a densificação do sinal.

O Movimento ANTENE-SE foi criado em 2021 por entidades de diversos setores com o objetivo de incentivar a atualização das leis de antenas nas cidades brasileiras. A iniciativa demonstra que a melhoria da conectividade, decorrente do avanço na regulamentação da infraestrutura de telecomunicações, não apenas prepara o país para o 5G, como também contribui para o desenvolvimento econômico e para a redução das desigualdades sociais.


Serviço
Evento: Solenidade de celebração da marca de 1.000 cidades com leis de antenas atualizadas
Data: 13 de maio
Horário: Das 9h às 11h
Local: Sede da Anatel, Brasília (SAUS, Bloco E, 2º andar)

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Associações de ISPs lançam movimento em defesa do Comitê Gestor da Internet

As associações que representam provedores de Internet no Brasil, incluindo Abrint, InternetSul, Associação NEO, entre outras, iniciaram um movimento durante o evento AGC 2025 (Abrint Global Congress) em defesa do modelo brasileiro de governança da Internet – incluindo a manutenção integral das funções do Comitê Gestor da Internet (CGI.br) e com críticas aos debates do Congresso Nacional de mudança do modelo de Internet e às ambições da Anatel de assumir um maior protagonismo sobre a regulação do ecossistema de Internet . Em uma espécie de “flash mob” (mobilização organizada) durante o evento,  dezenas de dirigentes das principais associações, com o apoio do próprio CGI.br, circularam nos corredores do evento com camisetas em defesa do comitê e palavras de ordem em defesa do modelo de governança e contra o fim da Norma nº 4, que deixará de valer em 2027, segundo decisão da Anatel. Mauricélio Oliveira, que encerra na AGC 2025 seu mandato como presidente da diretoria executiva da Abrint, chamou a atenção para os riscos que podem ser trazidos pelo debate em curso no Congresso Nacional, especialmente no PL 4.557/2024, do deputado Silas Câmara (Republicanos/AM) que prevê a transferência de algumas atribuições do CGI para a Anatel. A agência reguladora de telecom seria também a responsável pela coordenação do Comitê Gestor de Internet. Conforme noticiou este noticiário, a Anatel se manifestou favoravelmente ao projeto. Em decorrência do apoio da Anatel, o Comitê Gestor da Internet aprovou, na semana passada, uma manifestação contrária ao PL 4.557. A posição da Abrint já havia ficado clara na abertura do evento, conforme reportou TELETIME, mas o movimento ganhou cores de um movimento maior, congregando outras associações e uma mobilização organizada. A Abrint e demais associações que apoiam o movimento também saíram em defesa da manutenção da Norma 4/1995. Trata-se de uma regulamentação ainda da época do Sistema Telebras estatal, editada nos primórdios da Internet comercial no Brasil, que basicamente foi pensada para impedir que a Embratel (estatal que fazia o serviço de transmissão de dados no começo dos anos 90) monopolizasse o nascente mercado de acesso à Internet. Para a Abrint, esta separação é importante até hoje por uma questão principiológica, e não tributária. “Não se trata de uma questão tributária, mas de separar claramente onde começa o Serviço de Conexão à Internet (serviço de valor adicionado) e onde termina o Serviço de Acesso à Internet (telecomunicações)”, diz Basílio Perez, conselheiro da Abrint. Confira abaixo o discurso de lançamento do movimento:

Fake News Tecnológica: 10 Gbps, 10G e 10 GB não são a mesma coisa

Circula nas redes sociais um vídeo que tem causado confusão ao afirmar que estamos entrando na era da “internet 10G” com base em velocidades de 10 Gbps, misturando de forma equivocada conceitos distintos de velocidade de transmissão, tecnologia de rede e capacidade de armazenamento. Esse tipo de conteúdo, apesar de aparentemente inofensivo, contribui para a desinformação técnica e pode induzir milhares de pessoas ao erro.

É fundamental esclarecer que 10 Gbps significa 10 gigabits por segundo, uma unidade que mede a velocidade com que os dados trafegam por uma rede. Já o termo “10G”, embora usado em campanhas publicitárias de operadoras de cabo nos Estados Unidos, não é uma tecnologia móvel reconhecida internacionalmente como evolução do 5G.

Na realidade, o que está em implantação no Brasil neste momento é o 5G, e o mundo já começa a desenvolver o 6G, com pesquisas conduzidas por universidades, centros de inovação e grandes fabricantes globais. O Brasil também está ativamente inserido nesse processo, e merece destaque o papel do INATEL (Instituto Nacional de Telecomunicações), que vem conduzindo estudos e projetos voltados ao desenvolvimento do 6G no país, participando de fóruns internacionais e contribuindo para a construção das bases técnicas dessa futura geração de redes móveis.

Não há, portanto, qualquer previsão técnica, científica ou normativa de algo chamado “10G” como sucessor do 5G. Além disso, o vídeo mistura o conceito de 10 Gbps com “10 GB”, que é uma medida de volume de dados e não de velocidade. É importante lembrar que 1 byte equivale a 8 bits, logo 10 GB (gigabytes) correspondem a 80 Gb (gigabits). Ou seja, 10 GB se referem à quantidade de dados que podem ser armazenados ou transferidos, enquanto 10 Gbps é uma taxa de transmissão. São coisas completamente diferentes.

Outro equívoco comum presente nesse tipo de conteúdo é ignorar que planos de internet móvel muitas vezes têm limite de uso de dados, tanto para download quanto para upload. Ao atingir esse limite, a velocidade é automaticamente reduzida pelas operadoras, o que não tem relação com a geração da tecnologia contratada. A velocidade nominal pode ser de 5G, mas se o pacote for limitado, o desempenho final será comprometido.

Diante disso, é essencial que a sociedade tenha acesso a informações claras e tecnicamente corretas. Misturar conceitos como tecnologia, velocidade e volume de dados não só confunde como atrasa o entendimento público sobre os avanços reais das telecomunicações. Cabe a nós, engenheiros eletricistas, engenheiros em eletrônica, engenheiros de computação, engenheiros de telecomunicações e professores reforçar o compromisso com a informação responsável e combater a propagação de fake news com base em fundamentos científicos e rigor técnico.

Por:

Eng. Eletric. Dr. Rogerio Moreira Lima
Diretor de inovação e Diretor Estadual da ABTELECOM
Coord. da CAPA e da CEALOS do CREA-MA,
Professor do departamento de engenharia de computação da UEMA
Professor do Mestrado Profissional em Engenharia de Computação e Sistemas da UEMA
Membro da AMC titular da cadeira nº 54
1º Secretário da ABEE-MA

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Anatel e UFSC ampliam debate sobre a sustentabilidade no setor de telecomunicações em seminário

Evento faz parte da Trilha de Sensibilização e Aculturamento em Sustentabilidade em Telecomunicações e integra o Projeto Estratégico Governança 4.0 ESG

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), por meio do Centro de Altos Estudos em Comunicações Digitais e Inovações Tecnológicas (Ceadi) e da Superintendência Executiva (SUE), em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), promoveu, no dia 23 de abril, o 2º Seminário do Programa Anatel-S, como parte da Trilha de Sensibilização e Aculturamento em Sustentabilidade no Setor de Telecomunicações. O evento foi realizado na Sala dos Conselhos da Reitoria Central da UFSC, em Florianópolis (SC).

O seminário integra o Projeto Estratégico Governança 4.0 ESG, destacando a importância da sustentabilidade como eixo central das telecomunicações e da economia digital. A mesa de abertura foi conduzida pelo conselheiro diretor da Anatel e presidente do Ceadi, Alexandre Freire, e pelo pró-reitor da UFSC, Jacques Mick.

Freire ressaltou que o evento marca um momento significativo para a Anatel, enfatizando o papel crucial da sustentabilidade. “Quando refletimos sobre o setor de telecomunicações e sua relação com a economia digital e a sustentabilidade, percebemos que a sustentabilidade não é mais um elemento secundário ou ilustrativo. Ela se tornou um pilar essencial, um eixo estruturante da narrativa contemporânea”, afirmou. 

Ele também destacou a relevância da parceria com a UFSC. “Trata-se de uma instituição de grande respeito acadêmico, com a qual tenho o privilégio de colaborar há anos. Aqui, encontramos a fina flor do conhecimento científico”, declarou Freire, reforçando que a colaboração está alinhada à Agenda 2030 e impulsiona a transformação no ecossistema digital.

O pró-reitor Jacques Mick frisou que a parceria entre a Anatel e a UFSC é consolidada por projetos estratégicos. Ele lembrou que, em 2023, a UFSC elaborou um estudo de precificação do espectro para a Agência. “A Anatel tem sido uma fonte de inspiração, especialmente na construção de modelos de governança que podemos adaptar para renovar a governança universitária. Trabalhamos continuamente com recursos limitados, buscando otimizar processos, evitar duplicações e promover a multidisciplinaridade”, afirmou.

Mick finalizou destacando os aprendizados mútuos na agenda de sustentabilidade e expressou esperança de que a parceria continue a se expandir, influenciando outras instituições e comunidades.

A Agenda 2030 na Anatel

O conselheiro Alexandre Freire destacou a institucionalização da Agenda 2030 na Anatel como um marco para a governança da Agência. Ele explicou como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) foram incorporados aos processos regulatórios, com destaque para iniciativas como sandbox regulatórios e testes experimentais. Esses ambientes, segundo Freire, têm sido fundamentais para desenvolver soluções inovadoras, como a conectividade via satélite em áreas remotas, complementando outras tecnologias como fibra óptica.

Freire também enfatizou o papel dos servidores e do setor regulado na criação de uma cultura alinhada aos ODS, utilizando insights das ciências comportamentais para fomentar a inovação. Ele concluiu reforçando que a sustentabilidade é um eixo central da estratégia da Anatel, não apenas um complemento, e celebrou a parceria com a UFSC como essencial para avançar nessa agenda.

Telecomunicações Sustentáveis como Ecossistemas de Coprodução

O professor Roberto Pacheco abordou a integração entre telecomunicações e sustentabilidade, destacando a importância de iniciativas colaborativas que conectem operadoras, governos, instituições acadêmicas e comunidades. Ele apresentou exemplos de projetos que potencializam impactos em educação, inclusão digital e infraestrutura, alinhando-se aos ODS.

Pacheco também enfatizou a necessidade de adaptar o sistema acadêmico para atender demandas sociais, citando experiências práticas como mestrados direcionados a áreas estratégicas. Sua proposta de capacitação em Telecomunicações Sustentáveis, com workshops e desenvolvimento de projetos aplicados, reflete o compromisso em transformar teoria em ação concreta.

Telecomunicações Sustentáveis: Oportunidades e Desafios

O professor Hans Van Bellen explorou os desafios da sustentabilidade nas telecomunicações, destacando a necessidade de colaboração entre múltiplos atores. Ele apresentou casos como os investimentos da China Mobile em infraestrutura verde e cidades inteligentes, propondo que a regulação evolua para um modelo baseado em parcerias.

Van Bellen concluiu enfatizando que sustentabilidade deve ser um eixo central na transformação do setor, com metas como redução de pegada de carbono e promoção de energia limpa em áreas vulneráveis.

Anatel-S e próximos passos

Na última mesa redonda, parte do corpo docente da UFSC contribuiu com suas perspectivas sobre o Programa Anatel-S, apresentando o status atual do projeto e o planejamento até sua conclusão.

Os próximos passos incluem: o Curso Individual de Sensibilização em Telecomunicações Sustentáveis; o Curso para Equipes de Aculturamento em Telecomunicações Sustentáveis; Seminários de Divulgação e Difusão do Programa Anatel-S; o Instrumento Educacional de Mapeamento e Classificação de Iniciativas; além das produções intelectuais previstas para o projeto de P&D.

Com uma abordagem interdisciplinar, o programa desenvolve projetos que promovem a educação digital e a sustentabilidade organizacional, utilizando metodologias como a neoaprendizagem, que valoriza a colaboração e as particularidades individuais.

Ao conectar pesquisa e prática, o programa consolida a sinergia entre a Anatel e a UFSC, oferecendo soluções inovadoras e sustentáveis para os desafios contemporâneos no setor de telecomunicações.

O Programa Anatel-S representa um avanço significativo na sensibilização e aculturamento em prol da sustentabilidade nas telecomunicações, além de reforçar o alinhamento da Anatel com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela Organização das Nações Unidas, no contexto da Agenda 2030.

Fonte: ANATEL

Anatel participa da NAB Show 2025

Em uma das principais feiras de radiodifusão do mundo, e em eventos paralelos voltados ao público brasileiro, a delegação da Anatel focou-se no intercâmbio de conhecimento relacionado à TV 3.0

A delegação da Anatel, chefiada pelo conselheiro substituto Vinicius Caram, participou da NAB Show 2025. Na feira, promovida de 5 a 9 de abril em Las Vegas (EUA) pela Associação Nacional de Radiodifusores norte-americanos (National Association of Broadcasters), a Anatel teve, como principal foco, conhecer as tecnologias e equipamentos disponíveis para a implantação da TV 3.0. Esta tecnologia pretende somar a transmissão de conteúdo, realizada pela radiodifusão, à interatividade, integrando o aparelho com a banda larga do telespectador. A NAB Show é um dos principais eventos de radiodifusão do mundo.

Caram relatou o novo Plano de Atribuição, Destinação e Distribuição de Faixas de Frequências (PDFF), que atribuiu a faixa de 300 MHz à radiodifusão, possibilitando a adoção da TV 3.0 no Brasil. O PDFF, com a aprovação do Conselho Diretor da agência reguladora, tornou-se a Resolução nº 772, de 16 de janeiro de 2025.

O ATSC 3.0, um dos padrões disponíveis para a TV 3.0, mostra-se bastante promissor, oferecendo áudio e vídeo de alta qualidade e garantindo o uso eficiente do espectro. No entanto, o grande diferencial desse padrão é a interação entre consumidores e conteúdo, permitindo comentários, compartilhamentos e discussões em tempo real, inclusive nas redes sociais. Isso proporciona um espaço para o engajamento e a participação ativa, além de possibilitar novos modelos de negócio.

O corpo técnico da Agência visitou, ainda, uma emissora de TV norte-americana onde está sendo implementado o ATSC 3.0. A estação, que entrará em operação em junho, é um modelo de caso a ser acompanhado também pelos reguladores brasileiros.

SET:30 – A delegação brasileira também participou do SET:30, evento realizado pela Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET) na NAB Show 2025. Assim como na feira principal, o destaque deste ano no SET:30 também foi a TV 3.0, com a apresentação de um protótipo de decodificador para utilização do padrão nos domicílios. O SET:30 é um espaço dedicado à troca de conhecimentos e experiências entre profissionais brasileiros e internacionais, abordando temas relevantes ao desenvolvimento da radiodifusão no Brasil.

AERP DAY – A agenda da delegação também incluiu a participação em outro evento paralelo voltado ao público brasileiro realizado no espaço da NAB Show 2025, o AERP DAY, promovido pela Associação das Emissoras de Radiodifusão do Paraná (AERP).

Na visita, o conselheiro do órgão regulador brasileiro enfatizou a necessidade de desenvolvimento de modelos como a TV 3.0, para promover uma melhor experiência ao público, com impacto positivo também na rentabilidade da radiodifusão nacional.

O AERP DAY é considerado uma plataforma importante para discutir os desafios e oportunidades do setor de radiodifusão brasileiro, com foco nas necessidades e demandas das emissoras regionais, em face das novidades internacionais.

Segurança Cibernética – A Anatel, que também foi representada pela superintendente de Fiscalização, Gesiléa Teles, participou, no NAB Show,  do Content Delivery & Security Association (CDSA). No painel “Exploring the Brazilian Experience in Combating Audiovisual Piracy”, a superintendente apresentou as ações cibernéticas que a agência reguladora tem empreendido no Laboratório Antipirataria em relação às TV Boxes não certificadas, e a importância das parcerias público-privadas para a obtenção de bons resultados.

A participação da Anatel na NAB Show 2025, no SET:30, no AERP DAY e no CDSA reflete o compromisso da agência reguladora brasileira em se manter na vanguarda das inovações tecnológicas e em promover um ambiente regulatório que favoreça o desenvolvimento sustentável do setor de radiodifusão no Brasil.

Fonte: ANATEL

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O Mito da Bateria Magnética e os Riscos das Fake News na Engenharia Elétrica

maxwell

A propagação de desinformação na engenharia pode gerar receios infundados e prejudicar o desenvolvimento de soluções seguras e eficientes. Um exemplo recente é o mito da “bateria magnética” em elevadores, uma ideia sem qualquer embasamento científico. A divulgação de informações técnicas deve ser feita por profissionais devidamente habilitados, como engenheiros(as), conforme o Art. 7° ‘c’ da Lei 5194/1966, que estabelece a competência desses profissionais para a prática e a divulgação técnica. Isso é crucial porque a engenharia elétrica, assim como todas as áreas da engenharia, envolve riscos potenciais à sociedade quando exercida por leigos ou quando ocorre má conduta profissional.

A instalação de uma bateria em um elevador não gera um “campo magnético de bateria”; esse conceito simplesmente não existe. A existência de um campo magnético depende da movimentação de cargas elétricas (corrente elétrica de condução) ou da variação de um campo elétrico no tempo (corrente elétrica de deslocamento). Esses fenômenos são descritos pelas Equações de Maxwell, formuladas pelo físico e matemático escocês James Clerk Maxwell (1831–1879). Seu trabalho unificou a eletricidade e o magnetismo, estabelecendo as bases para a teoria moderna do eletromagnetismo e possibilitando avanços como rádio, radar e telecomunicações.

As Equações de Maxwell sintetizam as leis do eletromagnetismo de Faraday, Ampère e Gauss, descrevendo completamente os campos elétrico e magnético. Uma das principais contribuições de Maxwell foi a inclusão da corrente de deslocamento na Lei de Ampère, o que levou à previsão das ondas eletromagnéticas. A Lei de Faraday-Lenz estabelece que a taxa de variação de um campo magnético no tempo gera um campo elétrico rotacional, induzindo tensão em um circuito fechado, sempre em sentido oposto à variação do campo magnético que a criou. Esse é o princípio básico do funcionamento dos transformadores e geradores elétricos. A Lei de Ampère-Maxwell, por sua vez, descreve que um campo magnético pode ser gerado tanto por uma corrente elétrica quanto pela taxa de variação de um campo elétrico no tempo. A taxa de variação da densidade de fluxo elétrico é conhecida como corrente de deslocamento, e esta foi a grande contribuição de Maxwell, pois permitiu a previsão das ondas eletromagnéticas.

A Lei de Gauss da Eletricidade afirma que a presença de cargas elétricas cria campos elétricos que se afastam das cargas positivas e se aproximam das cargas negativas. Essa lei também confirma a existência de monopolos elétricos. Entretanto  a Lei de Gauss do Magnetismo estabelece que não existem monopolos magnéticos, ou seja, os polos magnéticos sempre aparecem em pares (norte e sul). Diferentemente das cargas elétricas, que podem existir isoladamente, os polos magnéticos não podem ser separados.

Com base nessas equações, é possível tirar algumas conclusões importantes. A taxa de variação do campo magnético induz tensão elétrica em sentido oposto ao campo magnético que a criou. A corrente elétrica produz campo magnético. Existem monopolos elétricos, mas não existem monopolos magnéticos. Portanto, a ideia de que uma simples bateria instalada em um elevador possa gerar um campo magnético significativo é completamente infundada. Baterias armazenam energia química e fornecem tensão elétrica quando necessário, mas, sem circulação de corrente elétrica (de condução ou de deslocamento), não há campo magnético gerado. Mesmo quando uma bateria alimenta um circuito, o campo magnético gerado depende da corrente elétrica fluindo nesse circuito, e não da presença da bateria em si.

A disseminação de desinformação na engenharia evidencia a importância da divulgação técnica responsável. Quando conceitos equivocados se espalham, eles podem influenciar decisões técnicas erradas, comprometendo a segurança de equipamentos e pessoas. O combate às Fake News na engenharia elétrica deve ser um compromisso constante dos profissionais da área, garantindo que a sociedade tenha acesso a informações corretas e cientificamente embasadas. A responsabilidade técnica na divulgação de temas da engenharia elétrica é essencial para evitar alarmismos infundados e garantir que as discussões sobre tecnologia e segurança sejam fundamentadas em conhecimento sólido e verificável.

Assim, conscientizar a sociedade sobre o papel da engenharia e a necessidade de embasamento técnico adequado é fundamental para evitar que mitos como o da “bateria magnética” se espalhem e gerem confusão desnecessária. Apenas com conhecimento rigoroso e comunicação responsável podemos garantir que decisões técnicas sejam tomadas com segurança e precisão.

Fontes:

[1] https://www.instagram.com/reel/DHRJpGCR3jq/?utm_source=ig_web_copy_link&igsh=MzRlODBiNWFlZA==

[2] A bateria de bicicleta elétrica pode causar explosão no elevador através de campo magnético?, disponível em https://seteservic.com.br/a-bateria-de-bicicleta-eletrica-pode-causar-explosao-no-elevador-atraves-de-campo-magnetico/

[3] WENTWORTH, STUART. Fundamentos de Eletromagnetismo com Aplicações em Engenharia.1. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2006.

[4]Hayt Jr., William H. Hayt, Buck, John A. Engineering Electromagnetics. Mc-Graw-Hill, 2006.

[5] BALANIS, Constantine A. Advanced Engineering Electromagnetics. 10. ed.Nova Jersey. John Wiley& Sons, 1989.

[6] REITZ, John R. , MILFORD, Frederick J., CHRISTY, Robert W. Fundamentos da Teoria Eletromagnética. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1982.

[7] Por que as equações de Maxwell são tão importantes e o que elas realmente significam?, disponível em https://universoracionalista.org/por-que-as-equacoes-de-maxwell-sao-tao-importantes-e-o-que-elas-realmente-significam/

 

Figura 1- Equações de Maxwell [7]

Semicondutores, IA e Telecom: O Novo Horizonte para a Indústria Brasileira

semicondutores

A engenharia desempenha um papel fundamental na sociedade, ainda que muitas vezes passe despercebida.

A engenharia desempenha um papel fundamental na sociedade, ainda que muitas vezes passe despercebida. Sua presença é essencial em praticamente todos os aspectos da vida cotidiana. Desde a agricultura de precisão, que otimiza recursos naturais, até os sistemas de automação elétrica que garantem a distribuição eficiente de energia, os semicondutores estão no centro dessas inovações. A própria internet, que conecta e sustenta grande parte da vida moderna, depende desses componentes. No entanto, ao se discutir tecnologia e chips, frequentemente se ignora a importância da engenharia eletrônica e de computação, como se essas áreas não existissem. A engenharia vai muito além da construção civil; está presente nos alimentos que consumimos, na eletricidade que ilumina nossas casas, na conectividade digital e nos avanços biomédicos.

O Brasil possui mais de 300 títulos de engenharia registrados no Sistema CONFEA/CREA, incluindo engenheiros em eletrônica e de computação, cujas contribuições são essenciais, mas ainda pouco reconhecidas. A indústria de semicondutores é crucial para o avanço tecnológico global, impactando diretamente setores estratégicos como inteligência artificial (IA) e telecomunicações. Iniciativas recentes indicam um movimento promissor para fortalecer a produção nacional de chips, consolidando o Brasil como um player relevante nesse mercado altamente competitivo. Para que o país tenha sucesso, é imprescindível investir na formação de engenheiros(as) especializados(as) nessas áreas.

A recente guerra dos chips entre Estados Unidos e China, intensificada por sanções e tensões geopolíticas, reconfigurou a cadeia global de semicondutores. Muitas empresas chinesas estão transferindo suas operações para data centers no exterior para contornar as restrições impostas pelos EUA. Esse cenário abre uma oportunidade para o Brasil se posicionar como um hub estratégico na produção de semicondutores, atraindo investimentos e diversificando a cadeia produtiva global. O anúncio de investimentos no setor, como os R$ 650 milhões da Unitec Semicondutores para expansão da produção e exportação de chips, demonstra o potencial do Brasil nesse mercado. Além disso, a assinatura do termo de engajamento entre o InvestRS e uma empresa do setor reforça o compromisso do Rio Grande do Sul em atrair investimentos e fomentar o desenvolvimento tecnológico. Essas iniciativas são fundamentais para reduzir a dependência externa de semicondutores, essenciais para dispositivos eletrônicos, telecomunicações e aplicações avançadas em IA. A escassez global de chips nos últimos anos evidenciou a necessidade de cadeias produtivas locais robustas e diversificadas.

A pandemia de Covid-19 desorganizou profundamente a cadeia produtiva global de semicondutores. O fechamento de fábricas, a redução da capacidade produtiva e desafios logísticos resultaram em uma escassez significativa de chips, afetando diversas indústrias, incluindo a automotiva. A falta desses componentes levou à interrupção na produção de veículos, atrasos na entrega de eletrônicos e aumento no preço de componentes essenciais. Segundo a CNN, em 6 de janeiro de 2023, a Anfavea informou que 250 mil veículos deixaram de ser produzidos no ano anterior devido à escassez de semicondutores. Esse cenário reforçou a necessidade de diversificação e fortalecimento das cadeias produtivas regionais. Países e empresas começaram a investir mais em autonomia na fabricação de semicondutores, reduzindo a dependência de fornecedores externos. No Brasil, esse contexto impulsionou iniciativas para atrair investimentos e desenvolver fábricas locais, garantindo maior resiliência frente a futuras crises globais.

O projeto e a fabricação de equipamentos eletrônicos exigem conhecimento técnico especializado, sendo essa uma atribuição exclusiva dos engenheiros em  eletrônica e de computação. Esses profissionais são responsáveis pelo desenvolvimento de semicondutores, circuitos integrados e outros componentes eletrônicos, conforme estabelecido na Lei Federal nº 5.194/1966 e nas Resoluções CONFEA nº 218/1973 e nº 380/1993. Projetar um equipamento eletrônico envolve a representação gráfica e escrita necessária à materialização do produto, com base em princípios técnicos e científicos. Já a fabricação consiste na execução do serviço técnico que transforma matérias-primas em produtos acabados, conforme disposto na Resolução CONFEA nº 1.073/2016. Garantir que esses processos sejam conduzidos por profissionais habilitados é essencial para assegurar qualidade, segurança e inovação na indústria de semicondutores, um setor crítico para o avanço da IA e telecomunicações no Brasil.

Diante desse cenário, o Governo Federal lançou a Nova Indústria Brasil, uma política industrial voltada à reestruturação do desenvolvimento industrial do país. Sob a liderança do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), a iniciativa busca fomentar a inovação e a sustentabilidade no setor. Entre as medidas, destaca-se a retomada do “Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores” (PADIS), criado em 2007, que oferece incentivos fiscais para a produção de chips e displays de LCD e plasma. Além disso, o governo implementou a isenção de quatro tributos na produção de semicondutores e placas solares, essenciais para o setor fotovoltaico. Outra medida significativa foi a reinstalação do Conselho Nacional do Desenvolvimento Industrial (CNDI), órgão responsável por debater propostas de políticas industriais com a cadeia produtiva e a sociedade civil.

O Brasil também se empenha na transformação digital da indústria. A Missão 4: Transformação Digital da Indústria, proposta pelo governo, visa aumentar a produtividade empresarial por meio da digitalização e da incorporação de tecnologias emergentes, como IA e semicondutores. Atualmente, apenas 23,5% das empresas industriais estão digitalizadas, o que evidencia o grande potencial de crescimento. Para alcançar esses objetivos, é necessário fortalecer a capacitação em TICs e semicondutores, fomentar a colaboração entre governo, institutos de ciência e tecnologia (ICTs) e empresas, além de expandir o uso de plataformas digitais nacionais. O Brasil busca minimizar sua dependência de soluções importadas, investindo na modernização da infraestrutura e incentivando a inovação no setor de TICs.

Entre as estratégias adotadas, destacam-se a implementação do Novo PADIS, a depreciação acelerada e a retomada do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (CEITEC). A Missão 4 tem como objetivos específicos fortalecer empresas nacionais em tecnologias digitais emergentes, reduzir a dependência de produtos micro e nanoeletrônicos, aumentar a participação de empresas nacionais em plataformas digitais e promover a atualização tecnológica das regiões industriais maduras. Esses esforços refletem a busca por uma indústria mais competitiva, autossuficiente e integrada às novas realidades tecnológicas globais, promovendo a autonomia e a sustentabilidade da economia nacional.

Em um mundo cada vez mais dependente da tecnologia e da inovação, a engenharia eletrônica e de computação se consolidam como peças-chave para o desenvolvimento sustentável e competitivo do Brasil. A transformação digital da indústria, aliada ao fortalecimento da produção local de semicondutores e ao investimento em inovação, será determinante para reduzir a dependência tecnológica e consolidar o Brasil como uma potência emergente nesse setor estratégico.

Artigo feito em colaboração com o Prof. Dr. Alex Brito, professor do departamento de economia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

Fontes:

[1] Como seria o mundo sem a Engenharia?, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=JgQNAF4FHMA&ab_channel=RenatoArl%C3%A9o

[2] Tabela de Títulos Profissionais aprovada pela Resolução CONFEA nº 473/2022, atualização: 21/01/2025

[3] Lei Federal nº 5.194/1977

[4] Lei Federal nº 6.496/1977

[5] Acórdão nº 1925/2019-TCU-Plenário

[6] NCEES, disponível em https://ncees.org/

[7] OEP, disponível em https://www.ordemdosengenheiros.pt/pt/

[8] Invest RS assina termo de engajamento para empresa de semicondutores se instalar no Estado, disponível em https://www.estado.rs.gov.br/invest-rs-assina-termo-de-engajamento-com-empresa-de-semicondutores-do-estado

[9] Fábrica brasileira de semicondutores investe R$ 650 milhões para produzir mais e até exportar chips, disponível em https://exame.com/negocios/fabrica-brasileira-de-semicondutores-investe-r-650-milhoes-para-produzir-mais-e-ate-exportar-chips/?utm_source=copiaecola&utm_medium=compartilhamento

[10] Chips, nuvens, robôs: Brasil avança na transformação digital da indústria com R$ 186,6 bi, disponível em https://www.gov.br/mdic/pt-br/assuntos/noticias/2024/setembro/chips-nuvens-robos-brasil-avanca-na-transformacao-digital-da-industria-com-r-185-bi

[11] Montadoras deixaram de produzir 250 mil veículos por falta de semicondutores, disponível em https://www.cnnbrasil.com.br/auto/montadoras-deixaram-de-produzir-250-mil-veiculos-por-falta-de-semicondutores/

[12] “Guerra dos chips”: China usa data centers no exterior para driblar sanções, disponível em https://olhardigital.com.br/2024/08/26/pro/guerra-dos-chips-china-usa-data-centers-no-exterior-para-driblar-sancoes/

[13] Câmara renova programa do Governo que alavanca investimentos em semicondutores, disponível em https://agenciagov.ebc.com.br/noticias/202406/camara-aprova-programa-para-alavancar-investimentos-em-semicondutores

[14] Fatores críticos e futuro da Ceitec são temas de debate no último dia do RS Innovation Stage, disponível em https://estado.rs.gov.br/fatores-criticos-e-futuro-da-ceitec-sao-temas-de-debate-no-ultimo-dia-do-rs-innovation-stage

[15] Entenda o programa Nova Indústria Brasil, disponível em https://www.comunidadecontabilbrasil.com/noticias/post/entenda-o-programa-nova-industria-brasil-wHIXudQyKV8thRr

[16] Governo Federal lança “Nova Indústria Brasil”, disponível em https://www.gov.br/mcom/pt-br/noticias/2024/janeiro/governo-federal-lanca-nova-industria-brasil

[17] Entenda o programa Nova Indústria Brasil, disponível em https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2024-01/entenda-o-programa-nova-industria-brasil

[18] ComposiçãoSecretaria-Executiva  Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), disponível em https://www.gov.br/mdic/pt-br/composicao/se/cndi

[19] Nova Indústria Brasil: Plano de Ação para a Neoindustrialização 2024-2026, disponível em https://www.gov.br/mdic/pt-br/composicao/se/cndi/plano-de-acao/nova-industria-brasil-plano-de-acao-2024-2026-1.pdf

Fonte: Coluna Rogerio Moreira Lima Portal Imirante